O Desporto Judô, como o conhecemos hoje, teve suas origens no Jiu-Jitsu, uma arte marcial praticada no antigo Japão cuja finalidade era formar guerreiros. Por volta de 1877, quando o Japão saía de um longo período de guerras e se preparava para os anos de paz e reconstrução, um professor da Universidade de Tóquio, o alemão Dr. Baelz, começou a incentivar os estudantes a praticarem a arte dos Samurais, antigos guerreiros japoneses. A que se considerar que por falta de embasamento pedagógico e objetivos educacionais claros e específicos, ainda não era possível classificar o judô praticado nesta época como esporte.
Jigoro Kano, que neste período era um dos estudantes da Universidade de Tóquio, interessou-se pelo estudo dos aspectos menos agressivos do Jiu-Jitsu, e passou a pesquisar e analisar os diversos estilos existentes naquela época, eliminando os golpes mais violentos e desenvolvendo um sistema de luta, acompanhado de uma filosofia, que procurava acentuar o lado educacional, moral e espiritual dos praticantes, baseando-se em um modo de vida de melhor utilização da energia humana; cuja finalidade principal era formar cidadãos pacíficos e não guerreiros. Em 1882 fundou uma escola com o nome de JUDO KODOKAN. Após este primeiro passo, o crescimento e divulgação do Judô pelo mundo aconteceu de forma constante, embora ainda lenta. O impulso decisivo ocorreu apenas nas Olimpíadas de Tóquio de 1964, quando o Judô se tornou um Esporte de projeção Internacional.
No início, o Judô tinha como princípio ser uma luta exclusivamente desportiva, servindo para canalizar a excessiva combatividade, acalmar o espírito, o nervosismo e cultivar as qualidades morais, tornar a prática do esporte uma constante forma de disciplina, fazendo-se necessário para isto, o respeito para com os adversários.
A filosofia do Judô é fortemente influenciada pela filosofia de vida oriental, a qual transforma a disciplina e o equilíbrio em formas de viver e encarar o semelhante. As palavras de Jigoro Kano sintetizam o princípio do Judô: “pelo treinamento em ataques e defesas, educa-se o corpo e o espírito, tornando a essência espiritual do Judô uma parte de seu próprio ser.” Assim, todos os valores que o judoca aprende nos seus treinamentos, como exemplo, a humildade e a perseverança, devem ser praticadas nos atos do dia-a-dia. Disciplina, Respeito, Educação, Desenvolvimento da Força Física e Técnica, são as cinco regras básicas que o judoca deve seguir.
Com o processo de imigração japonesa para o Brasil, o desporto se difundiu na cultura brasileira e hoje podemos concluir pelos resultados obtidos pelos brasileiros nos vários campeonatos, e também pelo grande número de praticantes existentes, principalmente no período formativo, que o Judô foi bem aceito em nossa cultura. Sendo que destacamos o talento dos atletas brasileiros em competições de altíssimo nível como os mundias, os pan-americanos, e as Olimpíadas.
Sendo o Judô um traço de aculturamento japonês no desporto brasileiro, é evidente que traz na sua prática a terminologia daquela cultura: os nomes das técnicas, os gestos, as saudações. Entretanto, é necessário considerar que os inputs da cultura em que se encontra inserido o aluno, bem como os aspectos culturais do desporto brasileiro não devem ser ignorados, assim como o que se refere à cultura que traz cada um dos praticantes individualmente. Analisando o contexto do Judô, percebe-se que as adaptações são fundamentais no processo de transmissão de conhecimentos, e isto dependerá principalmente da experiência, capacidade e sensibilidade do professor.
No Judô, como em qualquer esporte de lutas, é necessário certo grau de agressividade para se obter êxito, principalmente no rendimento competitivo, mas neste caso a agressividade exigida é positiva, de acordo com as regras de conduta e com as regras desportivas de competição. Este tipo de agressividade necessita de um autocontrole apurado da parte do atleta, que o conseguirá através de uma adequada orientação e muito treinamento.
O comportamento agressivo, mas adequado a esse esporte é incentivado principalmente nas competições, pois quando uma luta termina em empate, os árbitros costumam atribuir a vitória ao competidor que foi mais agressivo, mais combativo, ou seja, aquele que se empenhou mais em conseguir a vitória. A agressividade excessiva é totalmente desnecessária nas competições de Judô, pois qualquer ato contrário às regras de conduta ou às regras de competição pune-se com a perda de pontos ou desclassificação, chegando por vezes à suspensão das competições e da federação de Judô.
Um dos problemas que podem surgir nas competições é justamente o dano psicológico causado pela valorização excessiva da vitória e da superação dos adversários. Quando não se consegue a vitória, por exemplo, pode surgir a frustração e a raiva que geram atos agressivos prejudiciais e a violência, ou provocar algo ainda pior: a desistência de atletas promissores por falta de uma adequada orientação psicológica e desportiva. A orientação adequada consegue-se por meio da superação, do aperfeiçoamento constante, da persistência e da dedicação, principalmente a educação social, cultural e desportiva, conquistada pela participação sadia em competições esportivas.
Finalmente, levemos sempre em consideração as lutas cujas origens sejam capazes de desenvolver o autoconhecimento, o equilíbrio, o controle emocional, a disciplina, a humildade em que se busca a elevação espiritual para se atingir com perseverança a essência do verdadeiro lutador.